Nos próximos dias 10 e 11, o mundo vai acompanhar a corrida 24 Horas de Le Mans, no circuito francês de Sarthe, considerada uma das mais famosas do mundo para automóveis de várias categorias, principalmente os Hypercars (antigos esporte-protótipos).
Le Mans divide o prestígio internacional em velocidade e importância com a 500 Milhas de Indianápolis, nos Estados Unidos, e a Fórmula 1, com uma sequência de competições ao longo de cada ano em países de todo o mundo, com automóveis monopostos.
A edição deste ano será histórica por comemorar o centésimo ano de criação da prova. Em 1920 foi anunciada a criação de um novo tipo de competição no circuito de Sarthe com o objetivo de promover o automóvel e, nos dias 26 e 27 de maio de 1923, foi disputada a primeira corrida da série no circuito próximo da cidade de Le Mans, com 33 concorrentes. A vitória pertenceu a André Lagache e René Leonard, na condução de um carro Chenard&Walcker.
Hoje a principal prova do Campeonato Mundial de Endurance da FIA, a Federação Internacional do Automóvel, e edição de 2023 terá a participação de quatro brasileiros, o que se tornou habitual, entre os quais, Felipe Nasr, Pietro Fittipaldi, Alexandre Negrão e Daniel Serra, único brasileiro a vencer duas vezes em apenas três corridas, uma delas em 2017, com um Aston Martin e, no ano seguinte, com uma Ferrari, da equipe AF Corse. Este ano defenderá a equipe Kessel Racing, pilotando novamente uma Ferrari.
Com o prestígio que proporciona aos pilotos, às fábricas e aos veículos que exibem suas virtudes, histórias e ocorrências diversas, a 24 Horas de Le Mans é uma vitrine que revela a habilidade humana na condução de carros em velocidade acima de 300 quilômetros em suas longas retas e habilidade em curvas que realçam os mais hábeis e corajosos em lances que causam emoções em quem a assiste e provocam o desejo de, um dia, ter a oportunidade de conduzir um carro de corrida.
Ao longo de sua história centenária os pilotos brasileiros não venceram a principal categoria da 24 Horas de Le Mans, mas três deles conquistaram a segunda colocação.
O primeiro foi José Carlos Pace, na condução de uma Ferrari 312PB, em parceria com o italiano Arturo Merzario, em 1973. O carro de Pace e Merzario foi um protótipo do Grupo 6, equipado com um motor de 3 litros e 12 cilindros com potência de 470 cv.
O paranaense Raul Boesel também registrou o segundo lugar em 1991, dividindo a condução de um Jaguar com o norte-americano Davy Jones e o francês Michel Ferté, num resultado muito comemorado porque os pontos que acumulou deram a ele o título de campeão mundial de marcas em defesa da equipe Jaguar.
O terceiro segundo lugar foi obtido por Lucas Di Grassi em 2014, ao volante do Audi R18 e-tron Quattro, que dividiu com o dinamarquês Tom Kristensen e o espanhol Marc Gené. O carro de Lucas Di Grassi tinha motor V6 turbodiesel TDI de quatro litros em conjunto com um sistema elétrico “e-tron”. O trio fez dobradinha com o carro vencedor e idêntico, comandado por André Lotterer (Alemanha), Marcel Fässler (Suíça) e Benoît Tréluyer (França).
Além do entusiasmo que provoca anualmente, Le Mans também tem em sua história momentos de tristeza. Em 1955, na reta principal do circuito foi registrado o maior acidente em competições de automóveis. O carro pilotado por Pierre Levegh, colidiu com o de outro piloto, perdeu a direção e chocou-se com a mureta da pista e o motor do automóvel foi atirado sobre os espectadores que estavam nas arquibancadas causando a morte de 80 pessoas e centenas de feridos. O acidente envolveu também o campeão mundial Juan Manuel Fangio que, felizmente, nada sofreu.
Entre os 22 pilotos que morreram durante os treinos e corridas nos 99 anos de Le Mans, um deles foi do jovem Christian Heins, em 1963, na época, uma promessa do automobilismo brasileiro que, além de piloto, era o chefe do departamento de competições da Willys-Overland do Brasil.
No aspecto esportivo, a tradição do regulamento da corrida de Le Mans que se caracterizava pela largada com a corrida dos pilotos a pé em direção aos carros estacionados do outro lado da pista, deixou de ser utilizada em 1969 pelo protesto do piloto belga Jacky Ickx que não fez como os demais concorrentes. Em vez de correr em direção ao carro, atravessou normalmente a pista, colocando o cinto de segurança e sendo o último a largar. Assim mesmo, Ickx recuperou o tempo perdido na largada e foi o vencedor da corrida junto com Jackie Oliver, com um Ford GT40.
E, ao mencionar Ford GT 40, lembro que Le Mans foi local de uma das maiores disputas entre marcas da história. O Ford GT 40 foi desenvolvido para combater as Ferraris na competição obtendo a vitória quatro vezes, nos anos de 1966 a 1969. Foi a primeira empresa norte-americana a vencer a corrida, de forma invicta, ganhando todas as provas de que participou. Após a sequência de vitórias ganhou o apelido de Matador de Ferraris.
Esse episódio ocorreu pelo desentendimento entre Henry Ford II e Enzo Ferrari. Ao saber que Enzo Ferrari pretendia vender sua famosa fábrica, o neto de Henry Ford manteve entendimentos com o empresário italiano até ele informar a desistência da venda, depois de Henry Ford II ter enviado uma equipe de analistas à Itália para realizar uma pesquisa na administração da Ferrari.
Com esse desentendimento, Henry Ford II teria prometido a Enzo Ferrari que construiria um carro para vencê-lo e formou uma equipe para cumprir a promessa, sob o comando de Carroll Shelby. Além de vencerem Le Mans, confirmando a promessa de Henry Ford II, Dan Gurney e A.J. Foyt estabeleceram novo recorde para a corrida, percorrendo 5.232,9 quilômetros com a velocidade média de 217,916 quilômetros por hora.
Carroll Hall Shelby foi um veterano da segunda guerra mundial, fundador da Shelby American e responsável pela produção de carros fora de série, como o Shelby Cobra e o Mustang Shelby, e escolhido por Henry Ford II para o desenvolvimento do Ford GT40, que se tornou o primeiro carro norte-americano a vencer a 24 Horas de Le Mans, com história no filme Ford versus Ferrari.
A história de Le Mans proporcionou também um fato inusitado. Em uma das vitórias da Ford sobre a Ferrari o carro vencedor foi o que terminou a prova na segunda posição. Isso porque os diretores da empresa, para enfatizar o domínio sobre a Ferrari, deram ordem para que os pilotos terminassem a corrida com os carros emparelhados, um ao lado do outro.
Para surpresa, a comissão esportiva da prova determinou a vitória ao segundo carro que se classificou na prova porque considerou que, ao cruzar a meta ao lado do primeiro classificado, percorreu maior distância nas 24 horas da prova por ter largado alguns metros atrás.
Ainda sobre curiosidades, a tradição de estourar champanhe nas comemorações que os pilotos fazem na entrega dos troféus foi ideia do piloto norte-americano Dan Gurney ao vencer, junto com A.J. Foyt, a corrida 24 Horas de Le Mans de 1967.
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