Carro de testes sumido por um ano e ninguém deu falta

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Como é possível ceder um carro de testes a um jornalista, não ter registro sobre o empréstimo e não dar pela sua falta por um ano inteiro?

Se deu pela falta, o que acho improvável, por que acionar as pessoas e empresas envolvidas para saber do paradeiro desse veículo?

Por incrível que possa parecer, esse episódio aconteceu no início dos anos de 1980, quando o Grande Prêmio do Brasil passou a ser realizado em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

Naquela época, quando trabalhei para a Fiat, o chefe de imprensa da empresa na Itália pediu-me para ceder um automóvel a um jornalista que viria ao Brasil para acompanhar os testes de pneus dos carros da Fórmula 1, que antecedem o GP.

Ao contatar o gerente do escritório da montadora no Rio de Janeiro para a reserva do veículo, fui informado de que, um ano antes, esse mesmo profissional havia recebido um carro para a mesma finalidade e, até aquela data, não o havia devolvido.

Surpreso e, de certa maneira aborrecido, liguei para o colega europeu e expliquei o que me foi relatado. Depois de alguns minutos ele me telefonou com a informação de que, ao contrário do exposto, o carro havia sido deixado no prazo acertado, no hotel em que o jornalista se hospedara, seguindo à risca as orientações recebidas.

Liguei para o gerente do escritório da montadora que designou um funcionário para ir ao hotel onde encontrou o carro, com aspecto desolador sob um clima de esqueceram de mim, coberto de poeira e com pneus murchos pelo tempo que ficou abandonado.

A mim, restou um novo telefonema para o companheiro europeu com o necessário pedido de desculpas.

Esse episódio me fez refletir sobre os cuidados que os funcionários devem ter para a preservação dos valores de comprometimento, organização, respeito e assiduidade para a preservação da imagem positiva da empresa que representam e transmitir confiança a seus interlocutores, fazendo-os sentir que estão se relacionando com uma instituição segura e absolutamente confiável.

Ao longo de 60 anos de atividade profissional procurei dar aos profissionais a acolhida necessária para ajudar a resolver alguma dificuldade. Pela minha experiência, posso dizer que se eles procuram a empresa é porque precisam de algo que ela pode fornecer.

Como gerente do departamento de Imprensa minha atividade principal era atender jornalistas com informações gerais para seus trabalhos, assim como ajudá-los na realização de entrevistas com diretores e manter contatos frequentes com os profissionais, além de outras providências.

Outra atividade importante foi administrar uma frota de veículos para testes ou avaliações, normalmente realizados por jornalistas.

A frota mais numerosa que administrei era formada por 50 veículos dos diferentes modelos para atender os profissionais das principais cidades do País.

Vocês devem imaginar o trabalho que exige, como contatos com os revendedores de cada cidade, comunicação com os jornalistas, transporte dos carros, acerto do prazo de utilização, revisões técnicas e orientações aos profissionais.

E não imaginam o cuidado que os carros precisam receber, para estarem sempre em condições de serem avaliados ou, simplesmente, transmitir uma agradável experiência aos que têm a oportunidade de os conduzir.

Tive a sorte de contar com a ajuda do engenheiro José Augusto Barbosa de Souza que foi escolhido pelo diretor de engenharia da Ford como responsável pelo trabalho de manter os automóveis sempre impecáveis para proporcionar às pessoas que tinham a oportunidade de conduzi-los a melhor impressão

Essa é a parte positiva do programa por permitir aos usuários uma experiência diferente com um novo modelo de veículo e suas características em relação ao nível de conforto, padrão de segurança que oferece, desempenho, economia e, também, o desejo de posse.

Mas há também fatos inesperados ou não planejados que ocorrem causando surpresas, nem sempre agradáveis, e que fazem parte desse pacote de emoções. Vou relatar alguns outros que podem ocorrer para qualquer proprietário ou usuário eventual.

Alguma vez você já apertou o pino de segurança das portas de um carro, esquecendo de desligar o motor e precisando, por esse lapso, quebrar o vidro para recuperar a chave? No passado, os carros não tinham controle remoto na chave e o destravamento e a abertura das portas era feita colocando-se a chave na fechadura.

Já presenciou um casal de noivos sair feliz da igreja após a cerimônia e ser informado que precisaria providenciar outro carro porque a bateria do Ford Landau que emprestei ficou sem energia em razão do motorista ter mantido o sistema de ar-condicionado em funcionamento com o motor desligado. Tudo para recebê-los com o ambiente interno bem agradável em tarde de muito calor?

Um dia, em viagem ao interior do estado de São Paulo, utilizando a Rodovia Anhanguera, ao passar por um posto da Polícia Rodoviária Estadual, vimos um carro semelhante a um dos integrantes da frota, guinchado porque o motorista esqueceu os documentos do veículo em sua casa, exigindo providências burocráticas para ser liberado.

No passado, houve um político que solicitou um veículo para um período de avaliação e que, posteriormente, se recusou a devolvê-lo à fábrica. Sabem por quê? Ameaçou a empresa que se o deixasse sem carro a denunciaria por produzir um veículo que consome mais combustível que o declarado no manual do proprietário.

O pior é que o responsável pela empresa ficou preocupado em forçar a devolução do automóvel para impedir as críticas prometidas. E o político desfrutou do carro por longos meses, até que um diretor envolveu a polícia e retomou o automóvel.

Para finalizar, lembro de um episódio de um carro cedido a uma importante publicação que, ao ser devolvido foi imediatamente emprestado, em caráter de urgência, a outra publicação e, por isso, não foi submetido à tradicional revisão e que, quando devolvido, constatou-se que o motor havia sido trocado por um velho de menor cilindrada.

Há outras histórias, mas vou poupá-los com a mensagem de que por melhor que nos dediquemos, muitas vezes não conseguimos atingir o nível de eficiência ou confiança desejado por diferentes motivos. Felizmente, no meu caso, foram poucas essas vezes.

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