A falta de chips que afetou a produção da indústria automotiva após a eclosão da pandemia da Convid-19 impediu uma avaliação mais efetiva sobre o comportamento do consumidor brasileiro ao longo do ano passado e também do primeiro semestre de 2022.
As próprias projeções da Anfavea e da Fenabrave este ano levaram em conta muito mais a falta de oferta de produto do que o comportamento efetivo do varejo. A partir de meados do ano, contudo, houve um arrefecimento da crise de abastecimento e o quadro começou a ficar mais claro.
Executivos das duas entidades seguem sem admitir que o mercado formado por pessoas físicas esteja em retração, embora reconheçam haver restrições ao crédito. E tentam atrelar o aumento das vendas diretas ao maior uso de CNPJ no mercado automotivo por parte de microempresários e pequenos produtores rurais.
Ou seja, argumentam que as vendas diretas – que também inclui o público Pcd (pessoas com deficiência) – não estariam crescendo por conta dos grandes frotistas, incluindo locadoras.
Só que nesta semana, ao divulgar balanço do setor na terça-feira, 22 o presidente executivo da Abla, Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis, Marco Aurélio Nazaré, admitiu que tem havia sobra de carros nas concessionárias por causa dos elevados preços que afugentam o consumidor comum, o que vem refletindo no aumento das compras pelas empresas de aluguel.
“As locadoras respondem no momento por 35% dos negócios das montadoras, ante fatia tradicional na faixa de 20%”, informou Nazaré.
Os próprios números da Fenabrave indicam reversão nos sabores – leia-se varejo e atacado – da pizza das vendas de automóveis e comerciais leves no País.
Enquanto as vendas diretas cresceram quase 10% este ano, passando de 684 unidades nos primeiros dez meses de 2021 para quase 752 mil no mesmo período deste ano, os negócios no varejo baixaram 13,3%, caindo de 935,8 mil para 811,6 mil. No cômputo total, o segmento de veículos leves caiu 3,47%, para 1.563.619 unidades.
A partir desses números, constata-se que a participação das vendas diretas subiu de 42,23% no acumulado de janeiro-outubro de 2021 para 48,09% no mesmo intervalo de tempo deste ano. Se forem considerados os índices contabilizados em outubro de cada ano – respectivamente de 43,15% e 53,25% – verifica-se uma expressiva alta de 10 pontos porcentuais em 12 meses.
Claro, portanto, que a queda de vendas no mercado brasileiro de automóveis e comerciais leves – de 3,47% até outubro – seria maior não fossem os negócios no atacado, principalmente os que estão sendo fechados pelas locadoras nesta segunda metade do ano.
Fonte: AutoIndústria/Alzira Rodrigues