No dia 24 de abril, ocorreu a quarta edição do Encontro da Indústria de Autopeças, evento de grande reconhecimento para o setor, organizado pelo Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) em parceria com importantes entidades do segmento automotivo.
O encontro, realizado no mezanino do São Paulo Expo, zona sul da capital paulista, contou com a presença de líderes de grandes montadoras e de toda a indústria de autopeças, que se reuniram para discutir as principais tendências e desafios do mercado, além de trocar experiências e conhecimentos.
Durante o evento, foram realizadas diversas palestras e painéis, nos quais foram abordados temas como a importância da inovação e da tecnologia para o setor, discussões sobre descarbonização e sustentabilidade, e debates sobre vantagens competitivas e comparativas para trazer investimentos e ampliar perspectivas para a categoria no Brasil e no mundo.
Palestra Magna
Por volta das 13hs, o presidente do Sindipeças, Cláudio Sahad realizou a abertura do evento e moderou a Palestra Magna, com o tema “Cadeias Globais de Suprimento e Comércio como Oportunidades para a Transformação Industrial Verde”. O palestrante deste painel foi Benjamin Krieger, secretário-geral da Clepa, associação que representa os fabricantes de autopeças na União Europeia.
Ao longo da palestra, Krieger falou sobre o futuro da mobilidade e sobre a avançada transição para veículos elétricos no continente europeu. Apesar de defender a redução de C0 2 e a descarbonização da indústria, ele acredita que esse processo deve ser menos rígido. “Esperamos que caiam os índices de emissões e precisamos de outras opções. Políticas de matrizes energéticas, soluções para descarbonização. Precisamos da flexibilidade para nos adaptarmos às mudanças”.
Experiências em Inovação
O segundo painel, “Experiência de Montadoras em Inovação”, trouxe as principais tendências de duas das maiores montadoras do mercado: Stellantis e Volkswagen.
Juliano Almeida, SVP Compras e Supply Chain América do Sul da Stellantis, iniciou a palestra mostrando uma Linha do Tempo com as principais criações da montadora líder no mercado em países como Brasil, Argentina e Chile. A empresa é responsável por desenvolver a primeira picape, o primeiro veículo movido a álcool, além de ser pioneira em itens como motores turbo, airbag, bluetooth e aplicações off-road.
Juliano também falou sobre os planos da Stellantis para os próximos anos, como a redução de CO2 até 2030, a neutralização do composto em 2038 e o projeto BioElectro, que visa o desenvolvimento de veículos elétricos no Brasil. Antes de finalizar sua apresentação, mencionou que os projetos proporcionam uma “transição mais suave e mais sustentável” para a cadeia automotiva e ressaltou que o Brasil é um exemplo em relação a outras nações no uso de matrizes energéticas limpas e na emissão de carbono.
Já Henrique Mendes, Diretor de Relações Institucionais e Governamentais da Volkswagen do Brasil, reafirmou a possibilidade do país reduzir a emissão de gases poluentes. “Temos um potencial enorme para descarbonização em vários setores”.
Ele também apresentou investimentos e o histórico de inovações da montadora alemã, como o primeiro motor flex e a recente Way to Zero Center, que abriga tecnologias para a descarbonização na América Latina, que podem ser levadas para outros países.
Sistemistas e PMEs
O painel “Experiência de Sistemistas e PMEs em Inovação” reuniu importantes CEOs do aftermarket. Gastón Diaz Perez, Presidente e CEO na América Latina da Bosch, Sérgio Carvalho, CEO das Empresas Randon e CEO e presidente da Fras-le e André Silva, CEO da Selco Tecnologia e Indústria.
Os palestrantes ressaltaram a importância de evoluir dentro do universo automotivo e de trabalhar para acompanhar as principais mudanças e tendências. “Se estou dando continuidade a um negócio, preciso melhorar de alguma forma”, diz André.
Em relação às inovações no setor, Gaston Perez ressaltou que a competência de uma equipe é fundamental para que novas ideias possam surgir. “Vi muitas ideias fantásticas que não deram certo e vi muitas ideias que deram. O time que está por trás faz toda a diferença”. Ele também falou sobre os investimentos da Bosch em tecnologia em escala global (8%) e sobre a elaboração de sistemas para grandes equipamentos no setor de mineração e no agronegócio dentro da América do Sul.
Já Sérgio mencionou os “sete Cs da inovação”, características essenciais para quem deseja dar passos maiores dentro da indústria. “Curiosidade, criatividade, conhecimento, coragem, compromisso, crença e colaboração”. Além de falar sobre os desafios de inovar ao desenvolver implementos rodoviários e aplicações como bateria, eixo, motor elétrico no Brasil.
Futuro e oportunidades para o setor
O último painel do 4º Encontro da Indústria de Autopeças abordou “O Futuro da Reposição Independente e as Oportunidades para o Segmento”, através do palestrante Felipe Fava, sócio da McKinsey & Company. Dados importantes sobre veículos autônomos e novas oportunidades de negócio foram apresentados, como o uso de plataformas B2C para a comercialização de peças. “O que será vendido ali, serão produtos menos técnicos”.
Em relação a eletrificação da frota veicular, Fava estima que serão cerca de 11 mil veículos elétricos até 2040. Já o número de veículos a combustão prosseguirá estabilizado. Já no ambiente mecânico, estão previstas diferentes especializações, para que diferentes profissionais possam lidar com veículos cada vez mais modernos. “Vemos uma tendência de profissionalização. Conectividade, software embarcado e cada vez mais complexo para uma oficina lidar”, diz.
A palestra também contou com a presença de Everton Lopes, Diretor de Tecnologia da Mahle Tech Center, Gerson Prado, CEO da SK Mobility, presidente da Nexus Automotive International e diretor da Andap e Antonio Fiola, Presidente do Sindirepa-SP e Sindirepa Brasil.
Com relação ao uso de novos e diferentes combustíveis, Fiola fez uma previsão com relação ao futuro da frota nacional. “Vejo uma frota heterogênea, característica de fontes diferentes de matrizes energéticas”.
Outro tema discutido pelos debatedores foi o “Right to Repair”, tendência mundial no universo automotivo que chegou recentemente ao Brasil. Sobre o tema, Gerson Prado pontuou que o Brasil está atrasado em relação à iniciativa e que o Direito a Reparação só será difundido através do apoio de grandes autoridades. “Com relação ao right to repair estamos atrasados e só vai funcionar com voz no congresso”.
Encerrado por volta das 18hs sob aplausos, o 4º Encontro da Indústria de Autopeças foi um verdadeiro sucesso e demonstrou a importância da união das empresas de toda a cadeia automotiva em busca de soluções para os desafios e oportunidades de mercado, que não param de surgir.