Morte nas vias: falhas humanas e técnicas

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A maior causa dos acidentes em rodovias é a imprudência de motoristas combinadas a inaceitável falta de recursos. Vamos esperar mais 29 anos para entender que a IoT pode salvar vidas, assim como o cinto de segurança?

De janeiro a março de 2020, o Brasil registrou 89.028 casos de acidentes de trânsito, sendo 9.298 com vítimas fatais e 59.726 com invalidez permanente. Segundo o estudo realizado pelo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação em 53,7% dos casos o motivo foi imprudência, sendo 30% por infração às leis de trânsito, enquanto 23,4% acontecem por falta de atenção do condutor.

No entanto, a falha humana quase nunca acontece sozinha. Sempre antecede um problema mecânico ou de infraestrutura. Os dois últimos trágicos acidentes, de Taguaí -SP e o da BR-381 em João Monlevade, comprovam os números apresentados nas pesquisas realizadas pela Associação de Entidades Oficiais da Reparação de Veículos do Brasil (Sindirepa) que mostraram que 47% dos automóveis envolvidos em acidentes apresentaram algum tipo de problema mecânico.

O acidente na rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho, em Taguaí-SP, no dia 25 de novembro, entre uma carreta e um ônibus com trabalhadores, vitimou 42 pessoas. A causa provável parece ter sido a combinação de imprudência e falha mecânica. Alta velocidade, ultrapassagem e falha nos freios. Para entender o que realmente aconteceu a perícia precisou interditar a rodovia novamente, por mais de três horas, escanear o local com um equipamento de tecnologia 3D e câmeras que fotografam em HDR para recriar a cena em 360º, o que vai permitir medições, animações e simulações que posteriormente serão combinadas aos depoimentos das testemunhas.

O mesmo aconteceu com a tragédia do ônibus que caiu da Ponte Torta sobre a Estrada Férrea Vitória-Minas, de uma altura de 35,5 metros e deixou 18 pessoas mortas e 23 feridas. Alta velocidade, freios e, neste caso, infraestrutura precária. O grande ponto para o debate é que, apesar das questões obvias como o não cumprimento das regulamentações das empresas, da legislação e investimento em uma infraestrutura melhor, seria possível não só ter previsto esses acidentes, talvez semanas ou meses antes de acontecer, como também diminuir o tempo de resgate e otimizar as chances de sobrevida, além de entender a causa do desastre minutos após a colisão.

Daniel Schnaider, especialista em segurança no trânsito, tecnologias disruptivas e CEO da Multinacional Pointer By PowerFleet Brasil, fala sobre como esses acidentes podem ser evitados:

“Por meio da chamada IoT (internet das coisas), uma solução que combina serviços de geolocalização com câmeras, sensores e outros dispositivos conectados ao veículo, é possível mensurar uma gama de informações em tempo real que garantem a segurança da empresa, dos funcionários e usuários. São tecnologias de fácil acesso, como as câmeras, por exemplo, que ao monitorar os condutores registram o que é necessário para uma viagem segura.Enquanto um dispositivo acoplado ao veículo fica virado em direção à pista para trazer análises sobre o seu comportamento, outra câmera está virada para o motorista de modo a assegurar que ele mantenha uma postura profissional e mais proativa diante dos riscos. Essas câmeras são dotadas de uma inteligência artificial capaz de reconhecer padrões não desejados como ultrapassagem em faixa contínua, alta velocidade, direção com celular, não uso do cinto, falta de respeito ao pedestre e até mesmo distância segura do veículo da frente. Podem também identificar se o motorista está cansado demais, fazendo com que um responsável da empresa seja avisado sobre este fato por meio da tecnologia, possibilitando a troca do condutor e também remanejar a carga horária de trabalho. Ainda, é possível verificar se o motorista fuma ao volante, se está desatento, se cochila e até mesmo se carrega outros passageiros sem autorização.”

Em questão de infraestrutura, problemas na sinalização do local, buracos, visibilidade, avisos de possíveis obstáculos, rotas precárias em dias de chuvas ou até mesmo desafiadoras para o peso da carga são coletadas a fim de que novas rotas possam ser calculadas e tragédias sejam evitadas. E se caso um acidente acontecer, a tecnologia permite diminuir o tempo de resgate e otimizar as chances de sobrevida por meio de sensores que detectam colisões em qualquer tipo de veículo, do leve ao pesado, enviando um alerta imediatamente a ambulância mais próxima.  

Mas com tantas soluções disponíveis, porque grandes desastres continuam a acontecer? Comparados a processos que também foram incluídos aos automóveis para segurança, como o cinto de segurança e o airbag, a IoT ainda não foi reconhecida, pela sociedade e pelo governo, como ferramentas úteis na prevenção de acidentes. O cinto de segurança por exemplo, quando usado corretamente pode reduzir em até 70% as mortes e lesões graves. Sancionado em Lei nº 9.503, do Código de Trânsito Brasileiro, em 23 de setembro de 1997, demoramos 29 anos para entender sua utilidade para segurança do condutor e passageiros e torná-lo obrigatório não só para produção de fábrica, mas para uso em todas as vias do território nacional.

Comprovadamente em frotas, o uso da IoT reduz o risco de acidentes em 400%. Portanto, quanto tempo levaremos para fazer da sociedade um mundo mais dinâmico e proativo à vida para todos?

Daniel Schnaider é CEO da Pointer By PowerFleet Brasil, líder mundial em soluções de IoT para redução de custo, prevenção de acidentes e roubos em frotas. Contatos: daniel.schnaider@pointerbrasil.com e LinkedIn.

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