*Por Antonio Carlos Bento
A notícia causou perplexidade e tem movimentado a opinião pública; particularmente dos setores que compõem a chamada cadeia automotiva. E, principalmente o fato de a Ford concentrar sua produção nos vizinhos Uruguai e Argentina, economias menores que a brasileira.
A decisão da empresa, conforme divulgado, está ligada ao abandono de plataformas – aquelas produzidas no Brasil – e a manutenção de outras, aquelas produzidas nos nossos vizinhos. Junta-se a isso, uma decisão global de investimentos e, principalmente, do seu Cash Flow, que é The King, The Princess and, the Castle. Nosso vice-presidente criticou a decisão da Ford entendendo que a empresa poderia esperar um pouco mais. Com que informações, não sei! Serão perdidos, conforme anunciado, 5 mil empregos diretos. Segura e infelizmente, os desdobramentos não ficarão por aí!
Agora, a Ford poderia ter se comunicado melhor, principalmente com os seus dealers que, se sempre foram importantes, ficam fundamentais no que parece será o novo desenho de negócios.
O Brasil, se ainda temos tempo, tem de olhar com seriedade e sem paixões as questões que impactam a competitividade das empresas e, por conseguinte, decisões como a tomada pela Ford. Temos que assumir que não somos competitivos, arregaçar as mangas e definir uma Política Industrial com “pé e cabeça”. Chega de tapar o sol com a peneira! O já cansado custo Brasil, não se move! Temos um dos maiores custos de mão de obra do planeta – aí incluídos salário e encargos – uma carga tributária maluca – e os piores reflexos residem numa arrecadação imensa sem que a sociedade, como um todo, sinta os benefícios dessa carga excessiva. Conseguem imaginar a qualidade da aposentadoria e dos s erviços de saúde que poderiam ser entregues à população se os recolhimentos ao INSS fossem melhor geridos? Nossa logística é pra lá de sofrível! Já viram o calvário que os caminhoneiros enfrentam para levar mercadorias para o porto de Santos, por exemplo? Estradas caindo aos pedaços e por aí vai! Fala-se muito em desenvolvimento tecnológico, mas sem olhar a questão da educação. O Brasil forma entre 40 e 50 mil engenheiros por ano – e a maioria deles vai para o mercado financeiro que lhes paga mais. China e Índia, perto de 600 mil; Estados Unidos, ao redor de 250 mil; Rússia, 450 mil.
O sobe e desce da economia de um país cujo futuro nunca chega, causa sempre sustos nas empresas que, da noite para o dia, têm de rever seus projetos, demitir gente, e explicar aos donos do capital porque, mais uma vez, os planos foram frustrados. É claro que com reflexos diretos nos preços de tudo o que compramos! A origem de tudo, a falta de um projeto para o Brasil que nosso governo continua nos devendo! Podia dedicar a imensa perda de tempo com arroubos, negacionismos e impropérios e trabalhar mais nesse sentido.
Então, não é uma questão de nacionalismo, de ufanismo e sim uma questão absolutamente pragmática! Os gestores das empresas “cuidam do dinheiro dos outros” (tema tratado com muita perspicácia num filme antigo chamado Other People’s Money, vale ver ou rever!) e suas decisões precisam considerar essa condicionante. O país não tem tempo para queimar correndo atrás do próprio rabo! Precisa se mexer, rápida e eficazmente. Tem pano pra manga nesse tema! E que ninguém se espante se outros, independentemente do segmento, seguirem o caminho da Ford!