Para impulsionar a descarbonização do setor de transportes, o Brasil aposta fortemente em veículos híbridos flex, que combinam a utilização de motores a etanol com tecnologia híbrida. Segundo o estudo “Trajetórias tecnológicas mais eficientes para a descarbonização da mobilidade”, realizado pela LCA Consultores e MTempo Capital, essa estratégia é a mais eficaz para promover a sustentabilidade e o desenvolvimento socioeconômico.
A pesquisa, encomendada pelo Acordo de Cooperação Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil (MBCB), analisa a emissão de CO2 de diversos motores no mercado brasileiro e seu impacto socioeconômico. O Brasil, graças à popularidade dos motores flexfuel, já possui uma das menores taxas de emissões de gases do efeito estufa no setor de transportes entre as grandes economias mundiais. Com uma frota majoritariamente composta por veículos flexfuel, que utilizam tanto gasolina quanto etanol, o país conseguiu reduzir significativamente suas emissões desde o início dos anos 2000.
Desde o lançamento do motor flexfuel em 2003, que já representava 80% dos veículos leves vendidos até 2005, o Brasil vem liderando iniciativas para reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Entre 2021 e 2023, os licenciamentos de veículos leves flex representaram 83% do total, com mais de 2 milhões de automóveis sendo registrados anualmente. Hoje, os veículos híbridos flex, que combinam motores a combustão e elétricos, representam a evolução dessa tecnologia, oferecendo maior eficiência energética.
Metas ambiciosas
O Brasil estabeleceu compromissos significativos no Acordo de Paris para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e 43% até 2030, em relação aos níveis de 2005. Recentemente, essas metas foram ampliadas para 48% em 2025 e 53% em 2030. Para alcançar esses objetivos, a promoção do uso de etanol e a adoção de veículos híbridos flex são essenciais.
Apesar do avanço dos veículos elétricos e híbridos, o estudo destaca que a produção local de células de bateria ainda é um desafio. Importar essas células de países com matrizes energéticas poluentes, como a China, aumentaria a pegada de carbono dos veículos elétricos no Brasil. Além disso, as células representam entre 40% e 80% do custo total das baterias, tornando os carros híbridos uma opção mais econômica e menos poluente devido ao uso de baterias menores.
A transição para uma frota 100% elétrica também teria impactos econômicos significativos. O Brasil, com uma vasta frota de veículos flex, precisa equilibrar essa transição para não comprometer empregos e a economia local. “Já temos uma frota com milhões de veículos flex. Se dependermos da substituição por 100% elétricos, vamos levar décadas para descarbonizar o setor de transportes”, avalia Fernando Camargo, da LCA Consultores. Além disso, a infraestrutura necessária para a recarga de veículos elétricos é um obstáculo, especialmente fora das grandes capitais, tornando a transição para veículos híbridos flex uma solução mais viável a curto e médio prazo.
O Brasil está na vanguarda da descarbonização da mobilidade, graças à sua aposta em veículos híbridos flex. Essa estratégia não só reduz as emissões de CO2, como também impulsiona a economia e assegura o cumprimento das metas climáticas internacionais. “O Brasil sai na frente porque já começamos a limpar nossa matriz há muito tempo. É preciso valorizar tecnologia, pesquisa e desenvolvimento feitos aqui dentro para esse caminho da bioenergia. É uma nova fronteira tecnológica”, completa Camargo.
O Programa Combustível do Futuro, aprovado pela Câmara dos Deputados e em tramitação no Senado, também prevê um aumento na mistura de etanol anidro à gasolina, que pode variar entre 27,5% e 30%. Isso reforça a importância de continuar incentivando o uso de biocombustíveis e a inovação tecnológica no setor automotivo, garantindo que o Brasil mantenha sua liderança na descarbonização dos transportes.
Fernando Camargo, da LCA Consultores, coautor do estudo, destaca: “O Brasil já começou a descarbonizar sua matriz há muito tempo. É crucial valorizar a tecnologia e a pesquisa nacionais para avançar na bioenergia e garantir uma mobilidade sustentável.”