Cinco tendências transformadoras para o Aftermarket Automotivo Brasileiro

10 minutos de leitura

Por Carla Nórcia

O setor de aftermarket automotivo está em constante evolução, impulsionado por mudanças tecnológicas, novas exigências dos consumidores e a crescente demanda por sustentabilidade. Com um mercado dinâmico e desafiador, as concessionárias, oficinas e fornecedores precisam estar atentos às tendências globais que estão impactando diretamente o setor no Brasil. Este cenário de transformação profunda, que inclui desde a eletrificação dos veículos até a digitalização dos processos, moldará o futuro das empresas que atuam no segmento automotivo. Aqui estão as cinco principais tendências que já estão influenciando o aftermarket no Brasil.

1. Eletrificação dos Veículos e Combustíveis Alternativos

A eletrificação é, sem dúvida, uma das transformações mais significativas no setor automotivo global, e o Brasil está começando a sentir os efeitos dessa mudança. Embora o mercado brasileiro ainda tenha uma forte presença de veículos a combustão, o número de carros elétricos e híbridos vem crescendo rapidamente. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o Brasil registrou um crescimento de 48% nas vendas de veículos eletrificados em 2023, totalizando mais de 75 mil unidades em circulação.

Além da eletrificação, o Brasil se destaca como um dos líderes globais no desenvolvimento e uso de combustíveis alternativos não fósseis. O etanol, por exemplo, já é amplamente utilizado no país, e os motores flex representam mais de 80% da frota de veículos novos. O governo brasileiro também tem investido no desenvolvimento de tecnologias de biocombustíveis, como o biodiesel, e no uso de hidrogênio verde. A diversificação das fontes de energia para os veículos posiciona o Brasil como um polo de inovação na busca por combustíveis mais limpos e sustentáveis. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Brasil é o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo, com uma produção de 30 bilhões de litros de etanol em 2022.

Esse movimento cria novos desafios e oportunidades para o aftermarket, já que a manutenção de veículos elétricos e a adaptação de veículos a combustíveis alternativos diferem consideravelmente dos modelos tradicionais. As oficinas e concessionárias precisarão se preparar para oferecer manutenção em baterias, sistemas de carregamento e eletrônica avançada, enquanto os fornecedores terão que ajustar suas ofertas para atender a essa nova demanda.

2. Avanço dos Sistemas ADAS (Assistência Avançada ao Motorista)

Os sistemas ADAS estão se tornando padrão em veículos mais novos, especialmente com a adoção de carros conectados e semi-autônomos. No Brasil, a popularização desses sistemas – que incluem câmeras de ré e frenagem automática de emergência – é esperada para os próximos anos, à medida que mais montadoras integram esses recursos aos seus modelos. Para o mercado de reposição, isso representa uma necessidade urgente de investimento em tecnologia de calibração e treinamento especializado para lidar com esses sistemas complexos. De acordo com o relatório da Frost & Sullivan, o mercado global de ADAS deve crescer a uma taxa anual de 10,4% até 2027, e o Brasil segue essa tendência com uma expectativa de implementação crescente em veículos de passeio e utilitários.

3. Sustentabilidade e Economia Circular no Aftermarket

A preocupação com o meio ambiente está cada vez mais presente no setor automotivo, e no Brasil, a regulamentação ambiental e a conscientização dos consumidores estão impulsionando práticas mais sustentáveis no aftermarket. A economia circular, que envolve a reutilização e recondicionamento de peças automotivas, vem ganhando destaque como uma solução para reduzir os impactos ambientais da indústria. Empresas no Brasil estão investindo em programas de reciclagem de peças, como filtros e baterias, e o mercado de peças remanufaturadas cresce consistentemente, com uma projeção de expansão anual de 7% até 2026, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Autopeças (ANFAPE). Ao adotar práticas sustentáveis, como a reciclagem e o uso de materiais recicláveis, as empresas não apenas reduzem custos, mas também fortalecem seu compromisso com o meio ambiente.

4. Digitalização como Pilar de Eficiência Operacional

A digitalização tem transformado profundamente o mercado de aftermarket, proporcionando maior eficiência e agilidade para as empresas do setor. No Brasil, plataformas de e-commerce especializadas em peças automotivas estão em alta, facilitando o acesso dos consumidores e reparadores às peças necessárias de forma rápida e eficiente. Além disso, a digitalização de processos, como agendamento online e diagnósticos preditivos baseados em big data, está transformando a experiência do cliente. Um estudo da McKinsey revelou que a digitalização pode aumentar a eficiência operacional de oficinas em até 20%, ao mesmo tempo em que melhora a satisfação do cliente por meio de serviços mais ágeis e personalizados. Para o aftermarket brasileiro, investir em soluções digitais será crucial para se manter competitivo e atender à crescente demanda por conveniência e rapidez.

5. Escassez de Mão de Obra Qualificada em Toda a Cadeia

A falta de mão de obra qualificada não se limita apenas à manutenção de veículos eletrificados; afeta toda a cadeia do aftermarket automotivo no Brasil, sobretudo em funções técnicas e especializadas. A crescente complexidade dos veículos modernos, com suas tecnologias embarcadas, exige que profissionais de todas as áreas do setor estejam altamente capacitados, mas a oferta de técnicos qualificados não tem acompanhado a demanda. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que, até 2025, o Brasil precisará de mais de 200 mil novos profissionais técnicos especializados para suprir as necessidades do setor automotivo, um número que inclui áreas como reparação de veículos, diagnóstico de falhas eletrônicas e manutenção de sistemas complexos, como os ADAS. Esse desafio é talvez o maior de todos, pois, sem a qualificação adequada, a cadeia de aftermarket corre o risco de desacelerar em um curto intervalo de tempo, comprometendo a eficiência e o crescimento do setor.

O Peso Econômico do Aftermarket Brasileiro

O mercado de aftermarket automotivo brasileiro tem um peso significativo na economia. Segundo a Sindipeças, o mercado de reposição no Brasil movimentou R$ 173,6 bilhões em 2022, representando aproximadamente 19% do PIB industrial do setor automotivo. O setor inclui desde a fabricação e venda de peças e acessórios até serviços de manutenção e reparação de veículos. Com uma frota de mais de 45 milhões de veículos em circulação, a demanda por serviços de aftermarket, incluindo reparações, substituições e atualizações, permanece forte. A expectativa é que o mercado continue a crescer a uma taxa anual de 3% nos próximos cinco anos, impulsionado por novos veículos eletrificados e pela crescente adoção de tecnologias avançadas. O aftermarket no Brasil não apenas gera empregos, mas também tem um impacto direto no crescimento da economia como um todo, consolidando-se como um dos pilares da indústria automotiva.

Preparação para o Futuro do Aftermarket

Essas cinco tendências estão remodelando o aftermarket automotivo, trazendo tanto desafios quanto oportunidades para empresas no Brasil. A eletrificação, os sistemas avançados de assistência ao motorista, a sustentabilidade, a digitalização e a capacitação da mão de obra serão fatores decisivos para o sucesso das empresas nos próximos anos. As empresas que forem ágeis em se adaptar a essas mudanças, investir em novas tecnologias e capacitar seus profissionais estarão melhor posicionadas para enfrentar os desafios futuros e garantir uma presença de destaque no competitivo mercado de reposição automotiva.

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