A recente alta do dólar, que encerrou o primeiro pregão de novembro a R$ 5,86, representa o maior valor desde o auge da pandemia de 2020 e acende um sinal de alerta sobre o cenário econômico brasileiro. No ano, a valorização da moeda americana já ultrapassa os 20%, impulsionada pela indefinição das medidas fiscais prometidas pelo governo brasileiro e pela instabilidade política nos Estados Unidos, onde o desenrolar da corrida eleitoral gera incertezas sobre o futuro da política monetária. Este ambiente de volatilidade externa e dúvidas no campo fiscal tem pressionado o mercado e aumentando as expectativas de inflação, uma vez que a alta do dólar impacta diretamente o custo de bens importados e, consequentemente, o índice de preços ao consumidor (IPCA).
Com a expectativa de que a inflação se intensifique, o Banco Central brasileiro se prepara para uma reunião crucial do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima semana. Analistas de mercado, incluindo instituições financeiras de renome, já apontam para uma elevação mais agressiva da taxa Selic, atualmente em 10,75% ao ano. Existe a possibilidade de um aumento de 0,5 ponto percentual na Selic, como resposta ao aumento de custos, tanto internos quanto externos, incluindo os efeitos de um mercado de trabalho aquecido que pressiona os preços dos serviços. Este cenário coloca a autoridade monetária em um dilema: conter a inflação ou manter um equilíbrio que não prejudique a atividade econômica.
Enquanto o Banco Central observa com cautela, a alta do dólar também afeta o mercado de câmbio. Apesar da valorização da moeda americana, não há sinalizações para uma intervenção direta por parte do BC para controlar a cotação do real, pois a desvalorização atual é atribuída mais ao risco fiscal do que a uma falta de liquidez. Operadores de mercado defendem que intervenções para segurar o real neste momento poderiam enviar uma mensagem equivocada, de que o governo brasileiro estaria menos comprometido com o ajuste fiscal, uma medida essencial para restaurar a confiança e a estabilidade no mercado financeiro.
A perspectiva de uma vitória republicana nas eleições americanas adiciona outro elemento de pressão sobre a política econômica brasileira. Uma possível mudança na política comercial dos Estados Unidos, com Donald Trump, por exemplo, poderia fortalecer o dólar, aumentando a pressão inflacionária em escala global. Com isso, o Federal Reserve, banco central dos EUA, poderia ser forçado a manter os juros altos por mais tempo, ampliando os desafios para economias emergentes como o Brasil. Este movimento de política monetária externa pode dificultar ainda mais a tarefa do Banco Central brasileiro de ancorar as expectativas de inflação em um cenário de dólar fortalecido e juros elevados.
Diante desse panorama, economistas ressaltam a importância de o governo brasileiro avançar em seu pacote de corte de gastos, que tem sido aguardado pelo mercado como uma medida para recuperar a confiança e equilibrar as contas públicas. Sem um choque positivo na política fiscal, a pressão para elevar a Selic continuará, afetando o custo do crédito e a capacidade de recuperação econômica do país. A trajetória do dólar e da taxa Selic nos próximos meses será um termômetro importante para acompanhar a estabilidade financeira e o controle da inflação no Brasil.