Imaginem o executivo da indústria automobilística que comandou o maior número de projetos de novos automóveis, pick-ups e vans em todo o mundo, entusiasmado ao passar suas férias em uma casa simples, sem luxo e nem água aquecida, em uma praia brasileira e utilizando motocicleta para se locomover. Esse executivo é o suíço Robert Lutz, mais conhecido como Bob Lutz.
De 1974 a 1986, Bob Lutz trabalhou para a Ford e um dia telefonou para Robert Guerrity, presidente da Ford brasileira, pedindo ajuda para conseguir uma casa em Fortaleza para que ele e sua esposa Denise, se hospedassem durante alguns dias de férias. No diálogo com Guerrity, Lutz informou que havia recebido informações sobre as praias cearenses e gostaria de desfrutar das belezas tão realçadas.
Como executivo de importante cargo, causou surpresa ao informar que gostaria de uma casa confortável, mas sem luxo e que nem precisaria de água aquecida, pela temperatura elevada própria de verão e da localização de Fortaleza.
Mas, que precisava de uma pessoa para cuidar dos serviços domésticos e que fosse boa cozinheira. Outro pedido de Bob Lutz: não se preocupassem com automóvel, mas com a locação de duas motocicletas, para ele e a mulher se locomoverem em Fortaleza.
O presidente da Ford escalou Júlio Carvalho, gerente de programas de Relações Públicas, para cuidar dos pedidos de Bob Lutz. Muito experiente, profissional de gosto refinado, educação exemplar e comportamento de embaixador, foi a Fortaleza, onde recorreu ao proprietário da concessionária J. Macedo que o ajudou a visitar as praias e as residências disponíveis na cidade.
Durante a estada em Fortaleza, Bob Lutz e Denise afeiçoaram-se da cuidadora da casa e de seu filho, um garoto, na época, com dez anos de idade, que a ajudava nos serviços.
Diferente do rigor que sempre exigia dos companheiros de trabalho, que impunha muito empenho e criatividade, mas revelando muita compaixão por pessoas carentes e solidariedade, Bob Lutz passou a transferir mensalmente um valor à conta bancária da cuidadora para cobertura das despesas com o estudo do menino.
Pertencente a uma família de banqueiros em Zurique, Bob Lutz teve uma infância e início de carreira diferente do habitual. Em razão das constantes viagens de seu pai a trabalho, ele não se formou em nenhuma profissão em idade escolar. Mas, nos Estados Unidos, onde passou a viver, graduou-se em ciências e administração de empresas, ingressou na marinha norte-americana, formando-se fuzileiro naval e ainda se tornou piloto da Força Área Americana USAF que lhe deu grande experiência na atividade aeronáutica.
Como recordação de sua vida de jovem, tem uma coleção de carros, motos e alguns aviões, inclusive um Mig, caça russo utilizado na Segunda Guerra Mundial, que o divertiu muito em An Arbor, cidade próxima a Detroit, onde desenvolveu a maior parte de sua carreira automotiva.
É um dos poucos profissionais que tiveram vastíssima experiência automotiva e sua carreira fez com que fosse admirado e disputado pelas principais empresas do mundo, como General Motors, Chrysler Corporation, Ford e BMW.
Em todas elas idealizou vários automóveis que o tornaram o executivo que desenvolveu o maior número de veículos, sempre inovando e tendo como lema que no mundo dos automóveis não é preciso muita inteligência para ter sucesso, mas simplesmente bom senso.
Bob Lutz sempre foi polêmico e de opiniões fortes e tem alguns conceitos que muito divergem da grande maioria de executivos da indústria.
Ele considera que se bastassem as pesquisas de marketing nenhum produto fracassaria e que quando um homem de finanças está à frente de uma marca, pode produzir carros aceitáveis, mas sem paixão.
Quando apresentou o projeto do Volt para a GM, que chamou de a reinvenção do automóvel, o carro tinha como missão mudar a imagem da marca transmitindo ousadia para os consumidores. Carro é sinônimo de paixão, sempre dizia aos engenheiros e designers.
Na Ford, Bob Lutz trabalhou, inicialmente como presidente da empresa na Europa e, posteriormente, nos Estados Unidos, como responsável pelos projetos, chegando a vice-presidente mundial.
Em todas as empresas em que trabalhou sempre se destacou pela criação e pela forma com que defendia suas ideias. Por isso seus rastros ficaram marcados por êxitos de lançamentos, como os modelos BMW; Ford Escort e Sierra, na Europa; Explorer, nos Estados Unidos; Viper, na Chrysler: Volt, na GM, o primeiro elétrico, além de muitos outros em todas essas empresas.
Por essa dinâmica atuação, foi considerado um dos poucos executivos de peso ao longo da história do automóvel, como Enzo Ferrari, Gianni Agnelli e Lee Iacocca.
Em 1986, Bob Lutz mudou-se para a Chrysler, a convite de Lee Iacocca, com quem trabalhou na Ford, para ocupar o cargo de vice-presidente e, posteriormente, presidente, ajudando a recuperar a empresa de difícil situação financeira, com o desenvolvimento de carros bem-sucedidos, onde ficou até 1998 quando a Daimler assumiu o controle.
Entre outras atividades, Bob Lutz escreveu o livro Guts, título que podemos traduzir como “coragem” ou “estômago”. Nesse livro, ele aborda as sete leis de negócios que fizeram da Chrysler a empresa de automóveis mais relevante do mundo, e muitos casos e Lutz vê o mercado como uma arena, um palco para apresentar suas habilidades para sobreviver em tempos de crise.
Três exemplos de frase de Bob Lutz em Guts:
A eletrificação do automóvel é inevitável e quando as marcas não importam mais, a indústria automobilística acaba.
No passado, a GM produziu muitos veículos excelentes, mas de alguma forma eles não empolgavam ninguém.
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