Quando a Volkswagen lançou, entre 1980 e 1981, o Gol, o modelo não agradou o consumidor e recebeu críticas pelo baixo desempenho do seu motor 1.3. Mas rapidamente, a montadora reagiu e implementou mudanças no carrinho que transformaram a sua imagem junto aos clientes e o levaram a ser o automóvel mais vendido no Brasil por 27 anos, com mais de 8 milhões de unidades vendidas.
Essa mudança radical de trajetória e imagem tem a ver com a substituição do motor 1.3 pelo motor 1.6 que garantiu desempenho para enfrentar e superar a concorrência.
Tive a oportunidade de, recentemente, fazer uma curta viagem a Granja Viana com Ronaldo Berg, um dos responsáveis por transformar o Gol em um outro veículo e sucesso de vendas.
Especialista em Assistência Técnica e piloto de competições, experiente profissional em assuntos técnicos e de qualidade, o conhecimento de Ronaldo Berg foi decisivo para convencer a diretoria da Volkswagen do Brasil a colocar o Gol, logo após o seu lançamento, em competições de rali para mudar a imagem de fraco desempenho do carro junto a muitos dos seus compradores.
Ronaldo Berg teve a ideia de colocar o Gol em competições de ralis, mas não com o motor 1.3 original e sim com o motor 1.6 que era utilizado na Kombi, mantendo, porém, o câmbio da motorização 1.3 com relação mais curta e assim obter maior torque e aceleração nas retomadas de velocidade em curvas e subidas de montanhas.
Já com o programa do Gol em ralis em andamento, em 1984, Ronaldo Berger ganhou a parceria de Bob Sharp, outro experiente profissional em automóveis e corridas. Com Bob Sharp, engenheiro do Departamento de Competições da Volkswagen, ambos apresentaram um programa, aprovado pela diretoria da Volkswagen, e coordenaram a distribuição de 25 automóveis cedidos em comodato aos principais pilotos e navegadores dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que resultou na conquista de títulos do campeonato estadual de todos esses estados e também de carro e marca campeões brasileiros de rali.
Essas conquistas reforçaram o prestígio do Gol no mercado brasileiro, por intermédio da divulgação das vitórias e conquista dos campeonatos estaduais e brasileiros pela área de imprensa da Volkswagen, que a agência Almap explorava publicitariamente em jornais, revistas e emissoras de rádio e TV de todo o Brasil.
E, com a ideia inicial de Ronaldo Berg, e as ações imediatas da Volkswagen do Brasil de introdução definitiva do motor 1.6, o carro de desempenho modesto transformou-se no automóvel mais vendido na história da Volkswagen brasileira, com mais de 8 milhões de unidades, e também o mais vendido ao longo de 27 anos consecutivos.
Nesse passeio que fiz com o Ronaldo, desfrutei ainda do prazer proporcionado por um impecável Fusca 1985 que recebeu primoroso tratamento. Com reluzente pintura azul, o automóvel constituiu-se em atração da estrada. No interior do carro o ambiente é de um verdadeiro zero quilômetro pelo silêncio de seu rodar, graças a um profundo trabalho de restauração realizado sob coordenação do próprio Ronaldo, que o deixou mais silencioso e brilhante que um zero quilômetro.
Durante a viagem nosso diálogo foi todo sobre automobilismo que me levou à certeza de que o conhecimento é importante para qualquer atividade, especialmente com o tema automóvel.
Conversamos sobre vários assuntos e nos concentramos em ralis, a competição de automóveis realizada em estradas, especialmente por caminhos secundários, sinuosos e sem asfalto em que o piloto depende do navegador que, por intermédio da leitura do livro de bordo, transmite as informações sobre as condições do percurso e os critérios que devem ser obedecidos. É um verdadeiro trinômio bem ajustado que leva à vitória, o carro, o piloto e o navegador.
Também durante a viagem pude avaliar a importância do conhecimento quando me transmitiu a sua grande experiência de engenharia e de pilotagem de automóveis desde os 16 anos de idade, em 1964, em que começou a aprender o trabalho em uma concessionária Volkswagen até moldar-se com o perfil de gerente de assistência técnica e profissional.
Com seu rigor profissional, atendeu a Volkswagen por 30 anos, mais 4 na Audi, na Alemanha, 8 na General Motors, 2 na Kia, 6 na Peugeot Sport e 2 na Harley-Davidson, com o total 56 anos, sempre em nível gerencial e ligado à assistência técnica e também responsável pelas competições na Volkswagen do Brasil e na Peugeot Sport, na gerência da atividade de rali. Também trabalhou com a Ford, no período da existência da joint venture Autolatina.
No período da Autolatina, Ronaldo Berg participou de importantes programas especialmente na apresentação do automóvel Santana, modelo (1990/1991), em Brasília, com sistema de injeção eletrônica e da eleição do Gol GTI (1990) como o Carro do Ano.
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