Autor Marcelo Cavalcante de Lima
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O mês de maio foi de forma figurada sabotado pelo anúncio antecipado das medidas de incentivo do setor automotivo, consumidores e frotistas postergaram suas compras para o mês de junho, a estimativa é que aproximadamente 25 mil veículos deixaram de serem vendidos.
A média diária da 1ª quinzena projetava vendas superiores a 190 mil unidades, projeção que caiu com a expectativa de redução nos preços, fechando maio com 166.361 veículos, anotando uma queda de 4,84% em relação ao ano anterior e um crescimento de 9,65% ante o mês de abril.
Nem mesmo o crescimento ante o mês de abril pode ser comemorado, pois a média diária de maio ficou 6,01% abaixo do mês anterior.
No acumulado do ano as vendas totalizam 754.851 unidades, registrando um crescimento de 10,09% ante o ano de 2022, relembrando que o 1º semestre de 2022 foi impactado negativamente pelo agravamento da crise dos semicondutores, quando comparamos com o ano de 2021 o setor anota uma queda de 9,83% e recua 27,10% ante o período pré-pandemia.
As vendas no varejo em maio foram de 86.608 unidades, o que representou 53,02% e o atacado vendeu 76.753 veículos, fechando com uma participação de 46,98%, as locadoras reduziram o ritmo de compras nos últimos dez dias do mês, já contando com a possibilidade de comprarem em junho com preços menores.
No acumulado o varejo cresceu nesses cinco meses apenas 0,23% em relação ao ano anterior, enquanto o atacado avança 23,68%.
Nosso artigo do mês vai analisar o resultado de maio e os impactos das medidas do plano de incentivo do setor, como sempre vamos rechear nossa discussão com gráficos comparativos por marcas, modelos, por modalidade de vendas, marcas mais vendidas por Estados, prévia do fechamento nos principais mercados globais, estoques, desejo uma ótima leitura.
VENDAS GLOBAIS, PRINCIPAIS MERCADOS
Na análise acima podemos comparar as vendas do setor de autos e leves nos principais mercados globais, observamos que no caso da China ainda não dispomos do fechamento do mês de maio.
Conforme dados da OICA o setor fechou o ano de 2022 com vendas Globais de 81.828.533 unidades, queda de 1,36% em relação ao ano anterior e recuo de 10,32% na comparação com o período pré-pandemia.
O ano de 2022 foi impactado pelo agravamento da crise dos semicondutores, pela Guerra na Ucrania, pelas medidas de contenção do Covid na China e pelo aumento de inflação, com consequente perda de renda nos principais mercados.
As projeções para o ano de 2023 são de um crescimento Global em vendas de 6% ante 2022, o Brasil projeta um crescimento de 3%.
A queda nas vendas no Brasil na comparação com o período pré-pandemia é superior à média dos 10 principais mercados, destacando que o continente Europeu permanece impactado negativamente pela Guerra na Ucrania, nossa guerra interna segue sendo a perda de poder aquisitivo, juros altos, preços elevados e a uma carga tributária restritiva.
Além de pagarmos tributos superiores à média mundial do setor, temos ainda um sistema tributário complexo, com burocracia excessiva, aumentando custos e gerando uma insegurança jurídica, reduzindo nossa competividade para exportação e limitando novos investimentos.
Conforme sempre destacamos, o nosso setor não está em crise, mas precisa ficar atento a dinâmica industrial global, principalmente nesse momento de mudanças significativas nas cadeias produtivas, com a aceleração de pesquisas e desenvolvimento de veículos de novas energias.
O Brasil precisa manter o foco em pesquisa e desenvolvimento, precisamos planejar de forma clara quais serão os rumos a serem adotados pela nossa indústria de transformação, principalmente em pesquisa de novas energias.
ANÁLISE DE MARCAS DE AUTOS E LEVES – BRASIL
Conforme já mencionamos no começo do artigo, o mês de maio foi impactado negativamente pelo anúncio antecipado de medidas de incentivo para o setor, que só seriam implementadas em junho, o consumidor final e grandes frotistas postergaram suas compras para o mês atual, gerando aumento de estoques, queda na arrecadação de impostos e distorções na produção.
A Fiat mesmo diante desse cenário confuso, encerrou mais um mês na liderança, suas vendas mensais anotaram um crescimento de apenas 3,07% em relação ao mês anterior, 61,34% de sua carteira mensal foi concentrada no atacado. No acumulado do ano a marca italiana amplia sua vantagem para o segundo colocado para 42.637 unidades, maior que o volume total vendido pela Renault. Suas vendas totais anotam um crescimento de 7,95% ante 2022 e crescem 17,09% em relação ao período pré-pandemia.
A VW fechou o mês de maio na segunda posição pela primeira vez no ano, suas vendas mensais foram de 27.385 unidades e registraram um crescimento de 27,33% em relação ao mês de abril, destaque para as vendas do VW/Polo que ficou com a segunda posição dos mais vendidos no mês, a marca concentrou sua carteira mensal 56,14% no atacado. No acumulado do ano a VW permanece na terceira posição, suas vendas crescem 52% em relação ao ano anterior e caem 29.20% na comparação com o período pré-pandemia.
Fecha o trio do mês a GM com 26.220 unidades, suas vendas mensais cresceram 7,56% na comparação com abril, no acumulado do ano a marca permanece na segunda posição, anotando um crescimento de 25,92% ante 2022 e uma queda de 34,32% em relação ao período pré-pandemia. Sua carteira de vendas mensais foi concentrada 50,56% no varejo, seu modelo mais vendido foi o Onix que ficou com a terceira posição mensal e a vice liderança no acumulado do ano.
A Hyundai cai para a 6ª posição no mês de maio, suas vendas mensais anotaram uma queda de 20,40% em relação ao mês de abril, no acumulado do ano a marca coreana está registrando uma queda de 17,05% ante 2022 e um recuo de 26,24% em relação ao período pré-pandemia. Sua carteira de vendas mensal foi concentrada 73% no varejo, demonstrando uma mudança em sua estratégia de comercialização.
Na linha Premium a BMW segue na liderança com vendas acumuladas de 5.253 unidades, seguida pela Volvo com 3.342 veículos e fecha o trio Audi com 2.273 unidades vendidas, a Porsche está com a 4ª posição com 2.215 unidades.
A RAM surpreende pelo bom volume da marca no Brasil, com modelos 100% importados e com preços que variam entre R$340.000 até R$540.000, a marca já vendeu 4.012 unidades e está registrando um crescimento de 466% em relação ao ano anterior, esse Brasil é cheio de oportunidades.
RANKING DE MODELOS DE AUTOS E LEVES – BRASIL
A liderança do mês e do acumulado ficou mais uma vez com o comercial leve Fia/Strada, o modelo vendeu em maio 9.716 unidades, sendo 71,35% para o atacado, no acumulado do ano suas vendas crescem 0,81% em relação ao ano anterior, com um total de 41.539 veículos, sendo 68,13% destinados a modalidade de vendas diretas.
O VW/Polo é o destaque de maio, ficando com a segunda posição, foram vendidas 7.636 unidades, sendo 53% via vendas diretas, no acumulado o modelo está na 4ª posição com 27.773 unidades, concentrando 51,20% no varejo.
A terceira posição é do GM/Onix com 6.947 unidades vendidas, suas vendas foram concentradas 67,34% no varejo, no acumulado do ano ele permanece na segunda posição com 35.849 unidades, 62,84% foram destinados a modalidade varejo.
O Hyundai HB20 despencou para 14ª posição no mês de maio, suas vendas caíram 40,57% em relação a abriu, com 4.245 unidades vendidas, no acumulado do ano o modelo recua 20,96% em relação ao ano anterior, seu volume totaliza 27.582 unidades e estão concentradas 55% em vendas diretas.
Os modelos que serão mais beneficiados pelo programa de incentivo sofreram maiores quedas no mês de maio, a Fiat/Mobi caiu para a 16ª posição e recuou 10,46%, o Renault/KWID despencou para 26ª posição e recuou 34,37%, o Citroën C3 recuou 18,22%,
Os automóveis venderam nesse período 591.442 unidades, o que representou um crescimento de 7,62%, o sub segmento SUV’s vendeu 281.277 veículos, aumentando a sua participação para 47,56%.
O sub segmento de “entrada” e “hatch pequenos” venderam nesses 5 meses 202.766 veículos o que equivale a 34,28% dos automóveis vendidos nesse período, nesses dois sub segmentos se encontram os principais modelos que serão elegíveis aos maiores descontos do novo programa.
Os comercias leves venderam 163.409 unidades, o segmento está anotando um crescimento de 19,82% em relação ao mesmo período do ano anterior, são destaques a Fiat/Strada, GM/Montana, VW/Saveiro, Fiat/Toro, Toyota/Hilux, GM/S10 e Ford/Ranger.
VENDAS POR MODALIDADE VAREJO E VD
A modalidade de vendas diretas vendeu até maio 398.335 veículos, anotando uma queda na participação de 8,95% e um crescimento no volume de apenas 0,23%, na teoria as medidas do plano de incentivo devem melhorar essa participação.
O atacado (vendas diretas) segue turbinado pelas compras das locadoras e continua sendo o salvador da lavoura, sua participação cresceu 12,35% e seu volume total avançou 23,68%, na prática o setor deve abocanhar mais de 50% dos modelos elegíveis ao novo plano de incentivo.
A liderança do varejo é da Fiat, seguida pela GM e Toyota, no atacado a Fiat também segue liderando, seguida pela GM e VW.
MAPA DAS MARCAS MAIS VENDIDAS POR ESTADOS
A Fiat segue liderando em 21 Estados mais o Distrito Federal, a marca italiana permanece sendo o grande destaque, particularmente eu preferia um mapa com mais cores, mas isso não deve acontecer no ano de 2023.
A GM mantém sua liderança no Rio Grande do Sul, no Amazonas e no Ceará.
A VW garante a liderança no Estado de São Paulo e Santa Catarina.
PLANO DE INCENTIVO DO SETOR AUTOMOTIVO – AUTOS E LEVES
Primeiro temos que relembrar que o erro na divulgação antecipada do plano, fez o mercado deixar de vender mais de 25.000 veículos, que devem somar-se as vendas de junho.
Redução de preços sempre é bem-vinda, mesmo sendo um programa de curta duração e questionável pela amplitude dos modelos elegíveis. seria muito mais produtivo se fosse voltado para os modelos de entrada, mas de forma democrática tentou-se atender a maioria das montadoras, enquadrando modelos de até R$120.000,00.
O plano segue um sistema de pontuação, onde preços, índice de nacionalização e eficiência energética propiciam maiores créditos, sim não é redução de impostos, os fabricantes ganham créditos tributários pelos descontos oferecidos.
Nesse ponto também precisamos ficar atentos, pois o preço público sugerido, nem sempre é o mesmo praticado nas concessionárias, temos os famosos bônus que são incrementados nas ações comercias, esperamos que a regra seja mantida e os bônus sejam acrescentados aos descontos, afinal é interesse de todos que as vendas aumentem.
O plano vem com recursos alocados de R$500 milhões de reais e tem duração de 4 meses, segundo levantamento da Anfavea essa alocação equivale a uma elegibilidade de aproximadamente 100 mil veículos e deve esgotar em um prazo de 30 dias.
O erro na divulgação antecipada fez com que os estoques das fábricas e concessionárias aumentassem em maio, encerrando o mês com 251 mil veículos, sendo desses 115 mil elegíveis ao novo programa.
De uma forma geral o programa foi bem formatado, pois privilegia uma grande gama de modelos, com foco na maior densidade produtiva nacional e na eficiência energética.
Alguns preços divulgados nas últimas horas demonstram que os fabricantes vêm para a disputa pelos créditos, lembrando que a limitação de valor alocado para o plano é positiva, pois obriga a uma concorrência saudável entre as montadoras para aquisição desses créditos.
Outro detalhe importante do plano para autos e leves é a prioridade nos primeiros 15 dias para a aquisição de pessoas físicas, na teoria o foco das ações é aumentar as vendas no varejo, na prática essa medida é ineficaz, visto que as compras de grandes frotistas são feitas com antecipação, portando é impossível limitar essas aquisições, elas somente deixaram de serem faturadas nesses primeiros quinze dias.
No setor de pesados temos um plano de renovação de frota, importantíssimo para o segmento, principalmente nos quesitos segurança e eficiência energética, veículos com mais de vinte anos de uso seriam elegíveis aos descontos que podem variar de R$33.600 até R$99.400,00, os veículos dados na troca seriam baixados e encaminhados para reciclagem.
As medidas são bem vindas e foram bem alinhadas com o setor, mas é importante destacar que a queda nas vendas do setor permanecem sendo preços elevados, juros altos, perda no poder de compra, tributação, linhas de crédito, distribuição de renda, esses problemas não podem serem resolvidos por medidas provisórias, exigem ações estruturais, que envolvem Governo e a sociedade.
Outra medida que com certeza poderia incrementar as vendas do setor, seria o aumento da faixa de isenções para o público PCD, hoje limitadas para o ICMS na faixa de R$70.000,00.
Ficamos na torcida para que o plano seja um sucesso, desejamos um excelente mês de junho.