É uma pena, mas muitos jovens de hoje não têm mais a paixão pelos carros como os velhos, como eu, que não viam a hora de poder matricular-se numa autoescola para conseguir a carteira de habilitação. No meu tempo de jovem, a indústria automobilística estava nascendo no Brasil e lembro bem que sonhei com um Ford Prefect, Anglia, Hillman, Skoda ou qualquer outro pequeno carro europeu que custavam menos que um Ford, Chevrolet ou Dodge norte-americanos.
Só depois de casado consegui comprar um DKW que curti com a família e não esqueço de uma noite que consegui atingir a velocidade de 80 por hora numa madrugada na reta em frente às faculdades de medicina da Avenida Doutor Arnaldo, depois de terminar meu expediente no jornal, onde trabalhava.
Naquele tempo, os carros eram simples e não dispunham de nenhum item de luxo e conforto. Em segurança, ninguém pensava e todos curtiam os carros sem freio a disco, direção assistida e pneus radiais. Ar-condicionado, nem pensar.
Apesar de toda essa simplicidade eu curtia o meu DKW e soube até que muitos diretores de fábricas de automóveis se deslocavam com carros semelhantes, com os quebra-ventos abertos para refrescar o ambiente interno em dias quentes.
Apesar do esforço necessário para manobrar os carros, do calor que sentia durante o verão e da falta de ar quente para amenizar o frio em dias de inverno, da insegurança pela simplicidade dos freios a tambor e, sem pensar em segurança eu curti o DKW e, depois dois Fuscas que o sucederam.
Estranho muito a mudança de comportamento da juventude atual. E o pior é que essa moda é global, porque os integrantes da geração Y não têm mais o carro como sonho de consumo e não pensam em imóvel ou outros bens duráveis. Hoje, os anseios estão no intercâmbio internacional, dedicar-se aos estudos para a busca do emprego de sonhos ou na especialização profissional. E, naturalmente, na internet e na eletrônica em que os jovens dão um show em termos de comunicação.
Tenho cinco netos, todos formados e bem empregados como médico, advogado, professor, publicitário e músico. Dois deles venderam seus carros e movimentam-se com os aplicativos de transporte. Os outros usam carro somente em horas livres, mas sem nenhuma paixão.
E pensar que, atualmente, temos excelentes opções em automóveis. Dirijo um Ford Territory, extremamente ágil, muito confortável e repleto de recursos eletrônicos. É incrível como se comunica comigo. Me alerta sobre a aproximação exagerada de outro carro, me protege contra assaltos, impedindo que abram as portas e freando autonomamente quando há um obstáculo à frente. E acabei de experimentar um Fiat Pulse, delícia de automóvel, com motor 1.0 turboalimentado, que tem aceleração que faz pulsar fortemente o coração de quem o dirige pelo torque fantástico do motor 1.0 que faz 0 a 100 km/h em menos de 10 segundos, mais rápido que um Dodge Dart de 1972, com motor de 5 litros que registrava 12 segundos. Além da sua entusiasmante aceleração o Fiat Pulse tem outras virtudes que o fazem muito agradável de ser conduzido. E é o carro que exibe o melhor funcionamento do turbo entre os que tive a satisfação de conduzir.
Está correto aceitar que uma parcela de jovens tem outras alternativas de locomoção que contribuem para essa fase de desapego em relação ao veículo, por se livrar de alguns encargos que a propriedade exige. Como sou da terceira idade, espero não aderir à ideia da locação de veículos para os meus deslocamentos. Mas é possível que eu venha a mudar de comportamento a qualquer momento no futuro. Acho que, até essa estratégia me daria a oportunidade de variar de marcas e modelos e poder, assim, fazer uma avaliação com amplo conhecimento sobre as diferenças entre os modelos existentes no mercado e que, em termos profissionais, me seriam de muita utilidade. Mas, mesmo assim, prefiro me manter fiel ao meu conceito antigo, que me deu muitas alegrias e emoções.
Aos jovens, peço apenas uma reflexão. O mercado nunca esteve tão cheio de novos modelos à disposição do público, cada marca com importantes atrações. Aproveitem este momento singular para conhecer as opções disponíveis para, pelo menos, saber como a indústria brasileira evoluiu nos últimos anos.
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