Mobilidade elétrica em casa: por que a Amazônia é um polo na produção de veículos que se abastecem de energia limpa?

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Em tempos de constantes inovações, o coração da Amazônia respira ecologia e negócios há anos. Além de nutrir o oceano verde que abriga riquezas para as gerações presentes e futuras, há nesse local um universo de possibilidades. O setor de veículos elétricos, por exemplo, sabe muito bem disso, principalmente em um cenário de alta no preço dos combustíveis fósseis e de valorização da sustentabilidade. 

O ano de 2022 fechou com números muito representativos para o segmento no Brasil. Foram 49.245 unidades emplacadas (entre modelos híbridos, híbridos plug-ins e elétricos); um market share de 2,5% em relação ao total de emplacamentos domésticos no mesmo período (1.957.699) e uma frota eletrificada total circulante de 126.504 veículos. Trata-se de um crescimento de 41% na comparação com o ano anterior, quando 34.990 veículos ganharam oficialmente as ruas. 

O poder das duas rodas também reforça esse crescente. Isso porque as vendas de motos e scooters elétricas também subiram no ano passado, acumulando o aumento de 346%, de acordo com balanço divulgado pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). Apenas entre janeiro e maio de 2022, mais de 3 mil motos elétricas foram emplacadas no Brasil, registrando o crescimento de 878% em relação ao mesmo período de 2021, ainda segundo a entidade. 

Inclusive, de acordo com a Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares), as fabricantes instaladas no Polo Industrial de Manaus produziram 1.413.222 motocicletas no ano passado, o que representa volume 18,2% superior ao registrado em 2021 (1.195.149 motocicletas), e ainda evidencia o melhor resultado para o segmento desde 2014, quando foram fabricadas 1.517.662 unidades. 

O intrigante é que, ainda falando apenas sobre as motos que rodam pelas ruas e avenidas brasileiras, praticamente todas vieram da capital do Amazonas, onde estão instaladas as dez maiores fabricantes do país, responsáveis pela produção de mais de 98% desses meios de transportes vendidos no Brasil. 

Embora esse boom industrial possa parecer estranho em meio à Floresta Amazônica, seu ponto de partida se deu há mais de 50 anos. A Zona Franca de Manaus (ZFM), ou, se preferir, Polo Industrial de Manaus (PMI) é uma área criada pelo governo brasileiro na região com o objetivo de atrair fábricas para um local até então pouco povoado no país, promovendo maior integração territorial no Norte. Legalmente, a ZFM foi instituída em 1957, durante a administração de Juscelino Kubitschek, pela Lei nº 3.173. Mas, na prática, entrou em ação apenas no período da ditadura militar, que via com bons olhos a ocupação territorial da Amazônia para garantir ali a soberania nacional sob o lema: Integrar para não entregar.  

Assim, o Polo Industrial de Manaus funciona como uma área de atração de indústrias que operam por meio do oferecimento de incentivos fiscais, como redução ou isenção de impostos e facilitações burocráticas. Além disso, é um gerador e tanto de empregos. 

A ascensão dos veículos elétricos na região apenas coroa o que é intrínseco à localidade. Afinal, trata-se de um segmento que alia inovação, sustentabilidade, autonomia e mobilidade urbana no coração do Brasil. 

Para seguirmos rumo ao infinito e além, vale a pena vislumbrar uma política nacional mais atuante no setor, alinhada e coordenada entre o governo federal e os governos estaduais e municipais diante de todo o potencial em cena. O fortalecimento dos veículos movidos a energia limpa no Brasil é o futuro já presente em relação ao mercado sustentável automobilístico. Então, quem ousaria ficar de fora desse movimento? 

*Por Thiago Freire, sócio-fundador da Boram Eletric Motors 

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