“Automobilismo não vai se resumir apenas a 30 carros largando e competindo para ver quem chega em primeiro. Muita coisa está sendo planejada e o fã é a estrela disso tudo.” As palavras ditas por Fernando Julianelli, CEO da Stock Car Pro Series, não têm nada de adivinhação ou simples desejo de que algo aconteça. Elas sintetizam o intenso trabalho que o grupo Vicar, que promove e organiza a Stock Car, já está fazendo com vistas ao futuro, não apenas da categoria, mas do engajamento que ela pode proporcionar.
“A dispersão da atenção é enorme, hoje em dia. Portanto, ou você engaja seu consumidor ou ele escapa entre os dedos”, completa o ex-piloto e publicitário, com vasta experiência no mercado automotivo e com passagens pelas maiores agências de publicidade do País.
Os sinais são claros: a conectividade e as inúmeras opções de informação e entretenimento que ela proporciona moldaram uma profunda transformação na forma de consumir automobilismo. A integração do esporte real, como conhecemos, de carros queimando gasolina e pneus sobre o asfalto às plataformas digitais, é um caminho sem volta. E quem atestou essa nova realidade foi ninguém menos que a conservadora Federação Internacional do Automóvel (FIA), que rege o automobilismo no mundo todo, quando criou o FIA Motorsport Games, que vai para a segunda edição.
Até poderíamos dizer que é a terceira, pois o conceito nasceu em 2018, quando foi disputado, no Bahrein, a GT Nations Cup, capitaneada pelo SRO Motorsport Group, maior promotor de corridas de GT no mundo. O sucesso foi a senha para a FIA abraçar a ideia e se juntar à SRO no lançamento da primeira edição da FIA Nations Cup, em 2019, na Itália. Lembrando uma miniolimpíada, a competição multidisciplinar juntou competições de GT, Fórmula 4, carros de turismo, drifting, kart, slalom e automobilismo digital, disputadas por equipes que defenderam seus países. O sucesso foi tamanho, que a próxima edição, que acontecerá na França em 2022, subirá de 6 para 18 as disciplinas que ocorrerão no circuito de Paul Ricard e na cidade de Marselha.
As disciplinas anteriores permanecem. E tudo isso com suas versões digitais rodando nas plataformas de e-sports.
Do console ao cockpit
Uma das pioneiras na integração entre automobilismo digital e real foi a Nismo, divisão esportiva da montadora japonesa Nissan, por meio do programa GT Academy, em parceria com a Playstation®, no qual jogadores de videogame disputavam a chance de correr em carros e corridas de verdade. Isso há mais de uma década!
E o Brasil tem um campeão mundial de e-sports, o mineiro Igor Fraga, cujo desempenho virtual lhe valeu um patrocínio para correr no mundo real, em que se sagrou campeão da Toyota Racing Series, na Nova Zelândia. Na disputa final da primeira FIA GT Nations Cup, em Mônaco, Fraga recebeu o troféu de campeão de ninguém menos que Lewis Hamilton, em 2018.
Por aqui, a Stock Car não apenas trabalha em ritmo acelerado rumo ao e-sports, como projeta os próximos passos em direção a um mercado gigantesco, que engaja e renova a base de fãs. “Assinamos com a iRacing®, maior plataforma de simuladores de corrida do mundo. A coisa é tão real que tivemos que enviar dados de telemetria dos carros, texturas, layouts, desenhos de engenharia e especificações técnicas para que a experiência do jogador seja mais próxima possível da realidade. Serão 22 pinturas à escolha dos jogadores”, informa Julianelli.
Depois de prontos, os carros virtuais serão certificados pelos pilotos Rubens Barrichello e Tony Kanaan, que farão os acertos finais. “Chegaremos ao dia em que os pilotos virtuais serão convidados a acompanhar um final de semana nos boxes de uma etapa da Stock Car, participando, de verdade, desses dois mundos”, complementa o CEO da Stock Car.
Pioneira no e-Sports
Time oficial de e-sports da Nissan em ação. Das telas para as pistas. Foto: Divulgação Nismo
A Nissan é uma das montadoras que mais cedo focou no automobilismo virtual. Com times profissionais que disputam campeonatos de e-sports, a marca japonesa chegou a promover pilotos virtuais ao cockpit de seus carros oficiais de competição, já que a riqueza de detalhes alcançada nos simuladores faz com que as sensações sejam muito próximas da realidade. Com o advento da inteligência artificial, as diferenças, praticamente, não existem.
A Stock Car vai apostar pesado no e-sports e, com isso, pretende expandir globalmente sua base de fãs, que acabam consumindo o evento e integrando seus parceiros.
O 2022 da Stock Car promete muito, não só pela volta do público às arquibancadas mas por novas ações, novos formatos de corrida que vêm por aí e até, quem sabe?, uma terceira montadora, que poderia se juntar à Chevrolet e à Toyota em 2023. Não há confirmação da montadora ou se acontecerá, mas lembramos que 23, em japonês, se pronuncia: “ni-san”. Fonte: Mobilidade Estadão