Vendas de autopeças por canais digitais estão ganhando espaço e formando novos players além do Mercado Livre

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Por Carla Nórcia

O mercado de reposição automotiva no Brasil é um gigante que movimenta aproximadamente R$ 100 bilhões por ano. No entanto, apesar dessa expressiva movimentação financeira, o setor ainda é dominado por vendas realizadas em lojas físicas, com uma presença digital relativamente baixa. Estimativas apontam que apenas 6% a 7% das vendas de peças de reposição no país ocorrem por meio de plataformas online, revelando um enorme potencial inexplorado no ambiente digital.

A digitalização do setor automotivo ainda encontra desafios estruturais, especialmente no que diz respeito à integração de revendedores tradicionais ao ambiente virtual. Cada veículo possui entre 20 mil e 30 mil componentes, e muitos revendedores ainda não digitalizaram seus estoques, dificultando a transição para o e-commerce. No entanto, as projeções são otimistas: espera-se que entre 2030 e 2040 o mercado digital de peças de reposição atinja 20% do total de vendas no país.

Empresas que oferecem soluções digitais para o setor automotivo estão se destacando nesse cenário. A autotech Compre Sua Peça, que iniciou suas operações em 2022, é um exemplo do potencial de crescimento nesse segmento. A plataforma, que conecta vendedores a clientes finais e oferece soluções personalizadas para distribuidores, começou com nove vendedores e atualmente conta com trezentos, comercializando mais de 1 milhão de códigos de peças.

O crescimento acelerado da Compre Sua Peça é reflexo da demanda reprimida por soluções digitais no mercado automotivo. A projeção da empresa é chegar a 500 vendedores até o final do ano, com expectativa de crescimento de 40% nas vendas em relação a 2024. Esse avanço demonstra o apetite do mercado por plataformas que facilitem a compra e venda de peças de reposição de forma mais eficiente.

Outras plataformas têm seguido o mesmo caminho e ganhado espaço no mercado. A KarHub é considerada a maior loja online de autopeças do Brasil, com mais de 135 mil itens disponíveis. A empresa adota o modelo de “prateleira infinita”, sem estoque próprio, estabelecendo parcerias com indústrias, distribuidores e importadores. Recentemente, a KarHub inaugurou um centro de distribuição em Itajaí (SC) para otimizar a logística e aproximar-se de fabricantes locais. Um dos diferenciais da plataforma é o uso de inteligência artificial em seu sistema de busca, facilitando a identificação precisa de peças pelos usuários.

Outra iniciativa que vem ganhando destaque é o Peça Aí, focado em atender oficinas mecânicas com o que chama de “maior estoque digital de peças do país”. A plataforma facilita a localização de peças específicas para cada veículo e oferece entrega rápida, com prazos de até duas horas em algumas regiões. Além disso, o Peça Aí disponibiliza suporte especializado via WhatsApp, garantindo um atendimento ágil e eficiente para os profissionais do setor.

Apesar do crescimento rápido e das oportunidades geradas pela digitalização, o mercado online de peças de reposição ainda enfrenta desafios importantes. Um dos principais pontos é a garantia das peças adquiridas online, que muitas vezes não possuem a mesma segurança das compradas em lojas físicas. Questões relacionadas à origem das peças, autenticidade e políticas de devolução ainda precisam ser mais bem regulamentadas para garantir a confiança do consumidor.

Outro problema recorrente é a comercialização de peças ilícitas em marketplaces automotivos. A falta de controle rigoroso sobre a procedência das peças pode facilitar a entrada de produtos de origem duvidosa ou até mesmo roubados no mercado, prejudicando tanto os consumidores quanto as empresas que atuam legalmente. Para que o setor digital cresça de forma sustentável e segura, será fundamental o estabelecimento de normas mais rígidas e a fiscalização efetiva das plataformas.

Com o avanço da digitalização, o aftermarket automotivo brasileiro deve atingir um novo patamar de eficiência e alcance. A expectativa é que, com o amadurecimento do mercado, a participação das vendas digitais possa chegar a 30%, complementando e potencializando o modelo tradicional de vendas físicas. Esse cenário abre caminho para um futuro promissor no setor, impulsionado pela inovação, regulações adequadas e a adoção de tecnologias que facilitam o acesso às peças de reposição.

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